O risco geopolítico é constante, mas no meio de uma pandemia, de uma guerra na Europa e de uma transição climática que não está tão avançada quanto deveria, a ligação entre geopolítica, economia e negócios parece ter se estreitado. Os EUA continuam sendo a maior potência econômica, militar e diplomática, mas a China está crescendo e pode ameaçar cada um desses domínios. Tudo isso em um cenário de baixo desempenho econômico global, com uma recessão iminente nos EUA e na Europa e com a China prestes a registrar este ano seu crescimento mais fraco em décadas (exceto em 2020). Descrevemos, abaixo, alguns riscos geopolíticos e geoeconômicos importantes, de curto e médio prazos, os quais são notáveis por serem muito prováveis, muito impactantes ou ambos.

Os 10 Maiores Riscos Geopolíticos por Probabilidade e Impacto | Kroll

Corte de Gás para a Europa pela Rússia
Probabilidade: Alta; Impacto: Alto

Após fechar o gasoduto Nord Stream I para manutenção no final de julho, a Rússia retomou os fluxos de gás a 20% da capacidade. Uma nova interrupção no final de agosto – novamente para manutenção – foi prorrogada desde então. Os preços do gás na Europa subiram após o anúncio de uma segunda interrupção. Se a Rússia pretende utilizar como arma as exportações de energia para a Europa, deverá fazê-lo o quanto antes. A Europa está se esforçando para encontrar suprimentos alternativos de energia, aumentar a capacidade de armazenamento de gás natural liquefeito (GNL) e também reduzir a demanda de energia. Além disso, A Rússia limitou o uso das reservas estrangeiras que recebe da Europa para exportação de gás devido às sanções impostas aos bancos e ao banco central. Uma das razões pelas quais a Rússia pode desacelerar as exportações de gás em vez de suspendê-las é que sua infraestrutura de gás natural sofreria com a suspensão e, com as sanções, teria dificuldade para importar as peças necessárias para repará-la. Se a Rússia suspender totalmente a exportação de gás para a Europa, prevê-se uma recessão na zona do euro logo em seguida. A UE atingiu sua meta de reabastecer os estoques de gás (80% do armazenamento) em dois meses no início de agosto. Se este inverno trouxer temperaturas amenas e a economia da China permanecer estagnada de forma que a Europa não concorra com a China pelo GNL, a UE poderá enfrentar apenas altos preços do gás em vez da escassez efetiva e de paralisações nas fábricas. Isso intensificará a inflação e a crise do custo de vida na zona do euro. O Banco Central Europeu sinalizou claramente que está disposto a aumentar as taxas diante de uma recessão a fim de restabelecer a estabilidade dos preços. A Europa deve entrar em recessão no início do próximo ano e a desaceleração será muito mais profunda se o inverno for rigoroso e o racionamento for implementado. A Comissão Europeia está renegociando os preços dos mercados de energia na Europa para que as contas de energia do consumidor reflitam o custo médio da eletricidade e não o custo marginal. Este é um sinal positivo após cada país da zona do euro ter inicialmente lutado para garantir fontes alternativas de gás e instalações de armazenamento. A UE pode responder a um corte de gás reciclando seus fundos NextGenEU no fundo REPowerEU, usando a emissão conjunta de títulos para acelerar a transição verde.

 

Aumento dos Custos de Energia nos EUA
Probabilidade: Alta; Impacto: Médio

Os EUA já enfrentavam uma crise energética antes mesmo da guerra da Rússia contra a Ucrânia em fevereiro deste ano. A crise foi impulsionada por fatores de oferta e demanda. Com medidas de estímulo fiscal mais agressivas nos Estados Unidos do que na Europa, a demanda de energia voltou para níveis pré-pandemia, mas a oferta não conseguiu aumentar tão rapidamente por três motivos principais: primeiro, houve um subinvestimento crônico em combustíveis fósseis desde 2014, quando os preços do petróleo despencaram no chamado “Massacre do Dia de Ação de Graças”. Segundo, o movimento ESG intensificou ainda mais essa tendência, pois o dinheiro institucional evitou a indústria petrolífera. E, por fim, várias refinarias mais antigas e menos produtivas foram desativadas durante o primeiro lockdown da Covid e, portanto, um gargalo permanece mesmo com uma maior produção de petróleo. Considerando que o mercado petrolífero é global, a guerra da Rússia elevou os preços ainda mais. Espera-se que a Casa Branca se concentre na redução dos custos de energia, continuando a liberar petróleo da Reserva Estratégica de Petróleo e negociando com outros países produtores de energia (em especial a Venezuela e a Arábia Saudita) para incentivar uma maior produção da OPEP. O governo também pode impor um corte de impostos sobre o gás, mas parte do benefício irá para os produtores de petróleo e não para os consumidores. Essas medidas podem ajudar nas margens, mas os preços do gás continuarão altos. Uma proposta para reduzir os preços do gás no Ocidente é impor um teto de preço do petróleo russo. É provável que um teto de preço do petróleo seja ineficaz, já que a Índia e a China provavelmente comprariam petróleo um pouco acima do teto e a OPEP+ se ressentiria do corte nos preços. Os custos de energia nos EUA permanecem bem abaixo em comparação com os da Europa, mas ainda são altamente visíveis e a energia é difícil de ser substituída. Recentemente os preços do gás na bomba caíram e a inflação provavelmente atingiu seu pico em julho, mas os preços continuam altos. A inflação provavelmente continuará sendo um problema relevante nas eleições legislativas e pode prejudicar o desempenho dos Democratas.

 

Crise de Insegurança Alimentar
Probabilidade: Alta; Impacto: Alto

A Ucrânia e a Rússia são responsáveis por mais de um décimo de todas as calorias negociadas em nível global, produzem 30% das exportações mundiais de trigo (bem como 60% de seu óleo de girassol) e fornecem pelo menos metade dos grãos para mais de 26 países. Os grãos já colhidos na Ucrânia ficaram retidos, porque os portos foram bloqueados e militarizados. Em 22 de julho, a Ucrânia e a Rússia assinaram um acordo (mediado pela ONU e pela Turquia) para desbloquear três portos ucranianos no Mar Negro. Até agora, mais de 30 navios de carga exportaram alimentos da Ucrânia, o que aliviou um pouco a pressão sobre os preços dos alimentos, embora haja um grande acúmulo de exportações de alimentos após os 5 meses anteriores de fechamento dos portos. Os agricultores russos ainda podem produzir, mas as exportações foram prejudicadas pelas sanções. A Rússia é o maior fornecedor de fertilizantes do mundo e anunciou uma proibição de exportação no início de março. Com a China também impondo uma proibição de exportação de fertilizantes, há agora uma desastrosa escassez global que reduzirá o rendimento das colheitas no futuro. A China pode intensificar ainda mais a crise no fornecimento de alimentos, pois seis das províncias atingidas pela seca neste verão representaram cerca de metade da produção de arroz da China em 2021. De acordo com o índice de preços de alimentos da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, sigla em inglês), os preços dos alimentos aumentaram 7,9% em agosto em relação ao ano anterior, abaixo dos 16,6% em julho e 23,1% em junho.

A insegurança alimentar causou a Primavera Árabe em 2011. O aumento dos preços dos alimentos e da energia provocou protestos no Sri Lanka que resultaram na renúncia do presidente e do primeiro-ministro. Custos de empréstimos mais altos nos mercados emergentes e um dólar mais forte tornam mais difícil para os mercados emergentes continuarem subsidiando alimentos, mas sem esses subsídios, pode surgir fome e agitação social e política. As economias desenvolvidas também estão expostas à crise de insegurança alimentar. A inflação, impulsionada em parte pelos preços mais altos de alimentos e combustíveis nos EUA, é um grande problema de campanha que pode levar a uma mudança em quem controla o Congresso.

 

Disputas Territoriais na Ásia se Transformam em Violência
Probabilidade: Baixa; Impacto: Muito Alto

As tensões entre os EUA e a China persistem sob o governo Biden. Em meio a uma escassez global de semicondutores, agravada pelas sanções à Rússia (produtor de níquel, alumínio e paládio, principais insumos em semicondutores), a importância estratégica de Taiwan como produtor de semicondutores sofisticados continua crescendo, embora isso possa diminuir à medida que uma recessão global reduzir a demanda do consumidor por bens e serviços mais caros e fizer com que a demanda por chips diminua severamente a partir de seus picos. Já as empresas de semicondutores relatam estoques crescentes e desaceleração da demanda. Os EUA e seus aliados não conseguirão ter autossuficiência para reduzir rapidamente sua necessidade de semicondutores de Taiwan; o processo levará anos, e não meses, embora a recente aprovação da Lei CHIPS ajude, beneficiando consideravelmente todo o setor norte-americano de semicondutores em várias frentes e de uma maneira que acabará chegando à maioria dos consumidores. Um teste de força entre os EUA e a China sobre Taiwan pode eventualmente acontecer, mas espera-se que a China se mantenha no jogo por longo tempo e que o conflito aberto entre as duas superpotências seja evitado.

 

Política de ‘COVID Zero’ da China
Probabilidade: Alta (menor após outubro); Impacto: Alto

Embora a política de ‘COVID zero’ da China tenha evoluído desde o início da pandemia para ser mais estratégica e cirúrgica, ela ainda está sendo usada onde há surtos. A exposição ao vírus se expandiu significativamente, com todas as 31 províncias continentais registrando casos, e mais de 13% do PIB está atualmente sob alguma forma de lockdown, de acordo com o Goldman Sachs. O presidente Xi declarou publicamente que a política de ‘COVID zero’ é um sucesso, desse modo, vê-se muito pouca chance de ele revertê-la antes do Congresso do Partido Comunista em outubro, no qual ele pretende ser nomeado para um terceiro mandato. Portanto, os lockdowns persistirão e é esperado o fechamento de outras fábricas, o que intensificará os problemas globais da cadeia de suprimentos. Se a trajetória da doença do coronavírus até agora for um indício, deve haver um aumento nos casos com a chegada do outono, o que levará a lockdowns mais generalizados. Mesmo após o Congresso do Partido, será difícil para a China deixar a política de ‘COVID zero’ e aprender a conviver com o vírus. A China não enfrentou as mesmas ondas de infecções que o Ocidente e, portanto, há uma imunidade natural mais baixa. Além disso, a vacina Sinovac – que a grande maioria dos chineses vacinados recebeu – tem uma eficácia menor do que as vacinas de mRNA. A população idosa da China, em particular, tem uma taxa de vacinação e reforço abaixo de 60% – significativamente menor do que a taxa no Ocidente. Isso significa que a dissociação entre novas infecções e hospitalizações no Ocidente pode não se aplicar à China, e que a China levará mais tempo para aprender a conviver com a COVID-19 do que o Ocidente. O presidente Xi pode continuar adotando uma política de ‘Covid zero’ em seu terceiro mandato.

 

Regulamentação Mais Forte sobre Criptomoedas/Novos Produtos Financeiros
Probabilidade: Alta; Impacto: Médio

Além de seus muitos usos legítimos, as criptomoedas, em particular, são usadas há muito tempo para facilitar a movimentação de dinheiro para as partes sancionadas. Com a recente proibição pela Rússia quanto ao uso de ativos digitais para pagamento, o “inverno cripto” que começou há vários meses, uma explosão de entidades e partes sancionadas, o estresse econômico em todo o mundo e políticas cada vez mais protecionistas sendo promulgadas, espera-se ver grandes processos e ações de execução no próximo trimestre. Espera-se que os órgãos reguladores norte-americanos adotem uma abordagem muito mais vigorosa tanto para a aplicação de sanções tradicionais quanto para a investigação e regulamentação da movimentação de moedas digitais. Isso pode significar um processo de redefinição da criptoeconomia. Países da Ásia fizeram movimentos agressivos, sugerindo que punirão severamente aqueles que estão envolvidos em certos tipos de insolvências com criptomoedas, e as autoridades de fiscalização dos EUA começaram a adotar uma postura mais agressiva em relação à caracterização de determinados criptoativos. E as recentes falências de criptomoedas significam que importantes questões jurídicas, especialmente as dimensões legais dos chamados acordos de hipoteca para ativos digitais, estão prestes a ter uma resposta inicial. À medida que essas respostas vierem, as mudanças de conformidade serão rápidas e, potencialmente, onerosas. E como outros fracassos e colapsos de determinadas bolsas de valores são certos, consumidores e investidores de criptomoedas pagarão um alto preço por uma eventual certeza regulatória. Os mais fortes podem eventualmente prosperar, mas à medida que a maré baixar, haverá muito mais perdas.

 

Crise da Dívida Soberana:
Probabilidade: Alta; Impacto: Baixo

O Sri Lanka foi o primeiro país de renda média a entrar em inadimplência este ano, superando até mesmo a Rússia. O aumento dos custos de alimentos e energia e a diminuição das reservas cambiais forçaram o governo a decidir se continuaria subsidiando itens essenciais para sua população ou pagaria os credores estrangeiros. Embora o Sri Lanka tenha sido a primeira economia de mercado emergente a enfrentar essa difícil decisão, não será a última. O mais recente World Economic Outlook do FMI sugere que o crescimento desacelerará para os mercados emergentes de 6,8% em 2021 para 3,6% este ano. A demanda externa das economias em desenvolvimento parece fraca: os EUA e a zona do euro provavelmente entrarão em recessão nos próximos 18 meses, e a China deve registrar seu crescimento mais fraco em várias décadas (exceto 2020). Com as taxas do Banco Central dos EUA subindo agressivamente, os custos dos empréstimos estão aumentando em todo o mundo e o dólar norte-americano valorizou consideravelmente. E com uma proporção significativa do comércio denominado em dólares norte-americanos, as importações serão mais caras para os mercados emergentes. A dívida em moeda estrangeira também será mais difícil de pagar. A China é o maior credor bilateral do mundo, mas os termos de seus empréstimos são desconhecidos e até agora tem se mostrado relutante em aceitar qualquer redução, o que tornará as negociações de reestruturação da dívida muito mais onerosas e demoradas. Todos esses fatores podem criar uma tempestade perfeita para os mercados emergentes. Ainda assim, muitas economias em desenvolvimento têm saldos externos melhores do que em crises anteriores, aumentaram suas reservas externas, emprestam mais em sua moeda local e têm bancos centrais que aumentaram as taxas de forma proativa neste ciclo. Uma década perdida nos mercados emergentes pode, portanto, ser evitada. Em crises anteriores da dívida soberana de mercados emergentes, o peso do impacto foi sentido no país devedor e seus vizinhos regionais. Portanto, o retrocesso no Ocidente, em termos de crescimento econômico, provavelmente será limitado.

 

Zona do Euro se Desfaz com a Itália Enfrentando Greve de Investidores
Probabilidade: Muito Baixa; Impacto: Muito alto

Após a renúncia do primeiro-ministro Mario Draghi, a Itália agora realizará eleições antecipadas em 25 de setembro. As eleições apresentam riscos políticos e econômicos. Uma aliança de centro-direita liderada pelo partido Irmãos da Itália (FdI) é o governo mais provável de surgir. Embora o FdI e seus prováveis parceiros, Liga e Força Itália, tenham atenuado sua retórica antieuropeia, suas políticas serão de natureza populista e podem não envolver o tipo de restrição necessária para alinhar as finanças italianas com as regras fiscais da UE. O novo governo deverá apresentar um orçamento imediatamente e terá até o final do ano para cumprir uma série de metas para o uso do dinheiro do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Se a Itália não conseguir cumprir essas metas, não receberá a próxima parcela do financiamento. Os rendimentos dos títulos italianos vêm subindo desde que o Banco Central Europeu (BCE) anunciou que encerraria seu programa de flexibilização quantitativa, que estava comprimindo os custos de empréstimos na zona do euro. Com um estouro dos spreads italianos sobre os títulos alemães de referência, o BCE anunciou uma nova ferramenta antifragmentação para lidar com um aumento “injustificado” nos custos de empréstimos da zona do euro. Denominada como Instrumento de Proteção da Transmissão (IPT), essa nova ferramenta tem tamanho não especificado e envolve uma série de condições para qualificação, incluindo sustentabilidade fiscal, conformidade com as regras fiscais e cumprimento das metas do PRR. No momento, não está claro se a Itália se qualificaria para o uso desse instrumento, que foi amplamente projetado para suprimir seus spreads. Os rendimentos dos títulos italianos caíram logo após o anúncio do IPT, mas voltaram aos níveis alcançados antes do anúncio (um pouco melhorados pelo significativo reinvestimento do Programa de Proteção de Emergência Pandêmica, longe dos principais países da zona do euro em direção à Itália). Os investidores parecem não estar convencidos da ferramenta e podem testá-la antes ou depois das eleições. Se o IPT não conseguir conter os custos dos empréstimos italianos, será possível ver a crise do Euro irromper mais uma vez. Ou o BCE terá que implantar o IPT de forma convincente, ou terá que forçar a Itália a aceitar a plena condicionalidade do acesso às Transações Monetárias Definitivas (TMD). Há uma chance de a Itália recusar a última hipótese, mas espera-se que a zona do euro faça o mínimo no último momento possível para manter a Itália na zona do euro.

 

Desglobalização
Probabilidade: Média; Impacto: Alto

Quando a pandemia surgiu, vários países não conseguiram ter acesso a equipamentos de proteção individual e o risco às cadeias de suprimentos globais ficou claro. Economistas argumentaram que as cadeias de suprimentos seriam regionalizadas ou que a produção seria trazida para o continente. Até mesmo a Secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, popularizou a expressão friend-shoring. Infelizmente, não há uma métrica fácil para a globalização, mas existem muitos proxies e os dados não sugerem que o mundo esteja, definitivamente, se desglobalizando. O comércio mundial em relação ao PIB aumentou por décadas antes de se estabilizar nos últimos anos. A China se tornou o principal destino para o novo investimento estrangeiro direto (IED) em 2020, ultrapassando os EUA. O IED na China no primeiro semestre de 2022 subiu para 723 bilhões de yuans (US$ 112 bilhões), e está a caminho de outro ano recorde. Uma pesquisa do Conselho Empresarial EUA-China descobriu que 78% das multinacionais americanas na China não retiraram nenhum segmento de sua cadeia de suprimentos da China nos últimos 12 meses. Dito isso, mais de 20% das multinacionais americanas estão pessimistas quanto às perspectivas de negócios para os próximos cinco anos, o dobro do percentual do ano passado. As empresas tomam decisões sobre a produção com base em cálculos rígidos de seus resultados a médio e longo prazos. Empresas estrangeiras podem se conectar a redes sofisticadas e profundas de fornecedores, a portos grandes e eficientes e a uma força de trabalho capacitada na China. E embora muitas tenham começado a usar insumos chineses para exportações, elas querem agora ter acesso a uma economia grande e em crescimento. Ainda assim, as tensões comerciais entre os EUA e a China persistem. Mesmo que a desglobalização não tenha se consolidado, ela ainda pode acontecer. Isso aumentaria as pressões inflacionárias que o Banco Central dos EUA e outros bancos centrais já estão enfrentando.

 

Dólar Norte-Americano perde Status de Reserva
Probabilidade: Baixa; Impacto: Alto

Quando os EUA utilizaram as finanças como arma em resposta à guerra russa na Ucrânia, alguns economistas passaram a supor que isso marcou o início do fim do dólar norte-americano servindo como moeda de reserva global. A parcela do dólar nas reservas cambiais caiu de 71% em 2000 para 59% no terceiro trimestre de 2021. Contudo, isso ainda é aproximadamente o triplo do euro, que ocupa a segunda posição. Um quarto das antigas reservas em dólares fluiu para a moeda chinesa (renminbi). O restante foi para economias menores, como Austrália, Canadá, Cingapura, Coréia do Sul e Suécia. Todas essas economias aderiram às sanções contra a Rússia, com exceção da China. Elas dificilmente são uma escapatória óbvia em futuros conflitos geopolíticos e, em todo o caso, o loonie, won e krona estão todos apoiados por linhas de swap do Banco Central dos EUA; em caso de emergência, estão protegidos por dólares. Além disso, não há uma alternativa razoável para o dólar. Para o renminbi destronar o dólar, seria necessária uma total conversibilidade e a China teria que abrir sua conta de capital. À medida que a China tenta equilibrar objetivos de longo prazo, como estabilidade financeira, prosperidade comum e mudanças climáticas, com crescimento econômico de curto prazo, é improvável que abdique do controle sobre o sistema financeiro e a conta de capital. As criptomoedas são voláteis, principalmente em um mercado em baixa, e as stablecoins geralmente são lastreadas em dólares. Em um mundo multipolar, é eventualmente possível encontrar alternativas para o dólar, mas parece improvável substituí-lo. Se o dólar perdesse o status de reserva global, os EUA perderiam seu privilégio exorbitante de ter uma demanda aparentemente insaciável por sua dívida.

 

Conclusão

O conflito aberto na Europa é um gatilho para muitos dos riscos geopolíticos nos curto e médio prazos. À medida que as sanções ocidentais contra a Rússia forem impostas e a Rússia utilizar a energia como arma, o impasse semelhante a um cerco entre o Ocidente e a Rússia pode aumentar. Combinado com os desenvolvimentos no espaço das criptomoedas, resultará em atividades regulatórias e de fiscalização. Os descontos de risco para essa atividade devem ser considerados de perto na negociação e no investimento, e os gastos com conformidade aumentarão de forma inquestionável em todos os aspectos, mas principalmente no que diz respeito a sanções e verificação do beneficiário final. O papel da China na guerra na Ucrânia permanece ambíguo, e a China continuará utilizando as finanças como arma contra a Rússia. A tolerância à inflação alta, à insegurança alimentar e a uma crise do custo de vida diminuirá à medida que a Europa e os EUA entrarem em recessão no próximo ano em meio a aumentos agressivos de taxas. A China provavelmente evitará a recessão, mas registrará o menor crescimento já visto, salvo o ápice da pandemia. O crescimento econômico cura todas as feridas e a economia global terá escassez no próximo ano. O risco geopolítico é generalizado e seria melhor que as empresas reforçassem a resiliência e a conscientização em vez de tentar evitá-lo.


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